Uma comparação dos dados de vacinação de idosos com os registros de hospitalização e morte por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) ou Covid-19 (confirmada ou suspeita) permitiu constatar a efetividade dos dois principais imunizantes aplicados no Brasil na redução de casos graves e hospitalizações. É o que indica a Nota Técnica do Observatório Covid-19 da Fiocruz, publicada no dia 9 de julho.
Intitulada Análise de efetividade da vacinação da Covid-19 no Brasil para casos de hospitalização ou óbito, a nota avalia tanto indivíduos imunizados com pelo menos a primeira dose, quanto os imunizados com as duas doses. No primeiro caso, independentemente da vacina contra Covid-19 aplicada, a efetividade foi de 73,7% na faixa dos 60 a 79 anos, e de 63% entre as pessoas com mais de 80 anos.
Com pelo menos a primeira dose da AstraZeneca/Oxford, que no Brasil é produzida pela Fiocruz, foi constatada uma efetividade de 81,7% na faixa de 60 a 79 anos, e 62,8% naqueles com mais de 80 anos. Com a CoronaVac, o índice observado foi de 70,3% entre 60 e 79 anos, e 62,9% para maiores de 80 anos.
Com o esquema completo de duas doses a efetividade aumenta, independentemente da vacina aplicada, para 79,8%, de 60 a 79 anos, e 70,3% acima de 80 anos. Com as duas doses da AstraZeneca, foi estimada uma efetividade de 93,8% de 60 a 79 anos, e 91,3% acima dos 80 anos. Entre os vacinados com as duas doses da CoronaVac, os índices foram de 79,6% de 60 a 79 anos, e 68,8% acima dos 80 anos.
A eficácia dessas vacinas já foi demonstrada anteriormente em seus respectivos estudos clínicos. Os autores da Nota Técnica observam que um dos diferenciais desse estudo é apresentar evidências de efetividade das vacinas frente a variantes de preocupação que têm predominância no território brasileiro.
“Observam-se valores de taxa de incidência bastante elevados no final de fevereiro e começo de março, quando se inicia um processo de diminuição do número de casos, sendo mais expressiva para faixas etárias 60-79 anos e 80+ anos”, diz a nota. “Com os resultados de efetividade da vacinação aqui descritos e com a cobertura vacinal maior nestas faixas do que em outras no período, a vacinação foi um importante fator para redução do número de casos graves e óbitos”.
O estudo foi realizado por meio de análises estatísticas, utilizando bases de dados de vacinação SI-PNI e Sivep-Gripe, interligadas pela equipe do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Com dados reportados até 7 de junho, a avaliação envolveu um total de registros de mais de 40 milhões de vacinados com pelo menos uma dose de vacina e mais de 798 mil casos graves ou mortes, com SRAG com confirmação de Covid-19 ou suspeita. Os casos foram diferenciados entre imunizados ou não, e divididos ainda por faixas etárias.
O estudo mostra ainda que a efetividade se reduz para algumas faixas etárias, particularmente para os mais idosos, com 80 anos ou mais. Segunda a Nota, “A imunossenescência [conjunto de alterações que ocorrem na resposta imune de acordo com o envelhecimento] e uma duração mais limitada da imunidade no grupo 80+ poderia levar também a uma menor efetividade, haja vista que este grupo teve prioridade para iniciar mais cedo o processo de imunização”.
O grupo de pesquisadores envolvidos no estudo afirma que a efetividade da vacinação continuará a ser avaliada buscando estimar os dados de efetividade das vacinas com sua utilização no mundo real, no contexto epidemiológico e das variantes circulantes. “Os dados obtidos até este momento refletem principalmente as evidências de proteção vacinal frente a variante gama, preponderante no país neste período. Serão também importantes outros estudos que acompanhem o perfil epidemiológico e aspectos sociodemográficos dos indivíduos vacinados e não vacinados”, diz a Nota Técnica.
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias